ESCRITO NO ESCURO
Entre as negras paredes desta furna eu incrusto meu ser. Aqui sucumbo. Minhas asas, meus olhos são de chumbo, o meu corpo insensível é uma urna que encarcera a tarântula noturna do pavor ante o próximo minuto; um negror de pupila alastra o luto sobre as faces imóveis que me escutam (sobre os bichos, que, ávidos, disputam meus despojos de espectro prostituto).
Sempre isto, o Real: sempre o negrume de uma noite implacável e absurda onde a fauna das víboras chafurda: esse pântano mau de fel e estrume. Sempre isto, o que sonho: o ardente gume das visões imbecis que arquiteturo, pão de cinzas, trepada atrás do muro, cem fogueiras de sal no corpo inútil, gargalhada de onça, voz de bútio que prediz o terror do meu futuro.
Meus delírios que as frases não capturam. Meus lacraus cravejados-me na nuca.
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Minha mente-armadilha, uma cumbuca onde aranhas ferozes retorturam símias mãos que se arriscam, se aventuram a colher os seus grãos ou suas frutas. Vê, Razão: peias rotas e corrutas mal sustentam o monstro, ele é só músculos, os seus berros abalam os crepúsculos e despertam morcegos lá nas grutas.
(Eu sofreio-te as rédeas) Ah, Loucura, tu não vês que sou eu que te conduzo? (Mas não sou, sei que não, estou confuso, sei que é ela quem manda.) Esta procura de desvãos vulneráveis na estrutura do meu ser é em vão. (Não é: me oculto procurando fugir a cada vulto que a esconde.) Desiste: não me curvo. (Curvarei, sei que um dia, e estarei turvo, ressurreto, remorto e ressepulto).
O CASO DOS DEZ NEGRINHOS (romance policial brasileiro)
Dez negrinhos numa cela e um deles não mais se move. Manhã cedinho eles contam: e só tem nove.
Nove negrinhos fugindo; um deles, o mais afoito dançou — os guardas pegaram — fugiram oito.
Oito negrinhos trabalham de revólver e canivete; roupa cáqui vem chegando; correram sete.
Sete negrinhos seguiam pela rua de vocês. Um pai chamou a polícia; fugiram seis.
Seis negrinhos dão o balanço: bolsa, anél, relógio, brinco... houve um erro na partilha e viraram cinco.
Cinco negrinhos de olho na saída do teatro; um vacilou, deu bobeira, sobraram quatro.
Quatro negrinhos tormbando. Todos quatro de uma vez. Um deles o cara agarra — mas não os três.
Três negrinhos batalhando feijão, farinha e arroz. Um deu-se mal: a comida... dava pra dois.
Dois negrinhos se embebedam de brama, cachaça e rum; discussão, briga, navalha... fica esse um.
E um negrinho vem surgindo do meio da multidão:
por trás desse derradeiro vem um milhão.
A RESPOSTA DO COMPUTADOR
homem com mulher mulher com homem homem com homem mulher com mulher
homem e mulher com homem mulher e homem com mulher
sexo não tem sexo é quem gosta com quem quer.
ARTIGO DE FUNDO
Eu quero é a orgia! A safadeza! A indecência!
Deixo pros padres e pros militares a continência!
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